Pai Nosso: A Oração que Jesus nos Ensinou

Descubra o significado profundo da oração do Pai Nosso conforme ensina a Igreja Católica. Entenda sua origem, estrutura, cada pedido feito a Deus e sua importância na vida cristã. Ideal para quem busca aprofundar sua fé e rezar com mais consciência.

ESTUDO

A Oração do Senhor

A oração do Pai Nosso é considerada a mais importante do cristianismo, pois foi o próprio Jesus Cristo quem a ensinou aos seus discípulos, conforme registrado nos Evangelhos de São Mateus (6,9-13) e São Lucas (11,2-4). Para os católicos, ela é rezada diariamente, na liturgia e na devoção pessoal, sendo uma das primeiras orações aprendidas desde a infância.

Segundo Santo Agostinho: "Percorrei todas as orações que se encontram nas Escrituras, e eu não creio que possais encontrar nelas algo que não esteja incluído na oração do Senhor"

São Tomás de Aquino em sua Suma Teológica diz: "A Oração dominical é a mais perfeita das orações... Nela, não só pedimos tudo quanto podemos desejar corretamente, mas ainda segundo a ordem em que convém desejá-lo. De modo que esta oração não só nos ensina a pedir, mas ordena também todos os nosso afetos"

O Catecismo da Igreja Católica dedica uma extensa explicação à oração do Pai Nosso (parágrafos 2759 a 2865), chamando-a de “resumo de todo o Evangelho”. Para a Igreja, essa oração é não apenas uma fórmula de palavras, mas uma escola de oração, que ensina o cristão a se dirigir a Deus com humildade, confiança e amor.

A tradicional expressão "Oração dominical" (ou Oração do Senhor) significa que a oração ao nosso Pai nos foi ensinada e dada pelo Senhor Jesus. Esta Oração que nos vem de Jesus é realmente única: ela é "do Senhor". Com efeito, por um lado, mediante as palavras desta oração, o Filho único nos dá as palavras que o Pai lhe deu, Ele é o Mestre de nossa oração. Por outro lado, como Verbo encarnado, Ele conhece em seu coração de homem as necessidades de seus irmãos e irmãs humanos e no-las revela; é o Modelo de nossa oração.

Jesus, no entanto, não nos deixa uma fórmula a ser repetida maquinalmente. Como vale em relação a toda oração vocal, é pela Palavra de Deus que o Espírito Santo ensina aos filhos de Deus como rezar a seu Pai. Jesus nos dá não só as palavras de nossa oração filial, mas também, ao mesmo tempo, o Espírito pelo qual elas se tornam em nós "espírito e vida" (Jo 6,63). Mais ainda: a prova e a possibilidade de nossa oração filial consiste no fato de que o Pai "enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Abba, Pai!" (Gl 4,6). Já que nossa oração interpreta nossos desejos diante de Deus, é ainda "aquele que perscruta os corações", o Pai, quem "sabe qual é o desejo do Espírito; pois é segundo Deus que ele intercede pelos santos" (Rm 8,27). A oração a Nosso Pai insere-se na missão misteriosa do Filho e do Espírito. (CIC 2765-66)

Obs: Os textos a seguir são extraídos do Catecismo da Igreja Católica (CIC) de São João Paulo II

"Pai"

(CIC 2779-85)

Antes de fazermos nossa primeira invocação da Oração do Senhor, convém purificar humildemente o nosso coração de certas falsas imagens a respeito "deste mundo". A humildade nos faz reconhecer que "ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar"(Mt 11,27), isto é, "aos pequeninos" (Mt 11,25). A purificação do coração diz respeito às imagens paternas ou maternas oriundas da nossa história pessoal e cultural e que influenciam nossa relação com Deus. Deus nosso Pai transcende as categorias do mundo criado. Transpor para Ele ou contra Ele, as nossas ideias neste campo seria fabricar ídolos, para adorar ou para demolir. Orar ao Pai é entrar no seu mistério, tal como Ele é, e tal como o Filho no-lo revelou:

"A expressão 'Deus Pai' nunca fora revelada a ninguém. Quando o próprio Moisés perguntou a Deus quem Ele era, ouviu outro nome. A nós este nome foi revelado no Filho, pois este nome novo implica o nome novo do Pai"

Podemos invocar a Deus como "Pai", porque Ele nos foi revelado por seu Filho feito homem e porque seu Espírito no-lo faz conhecer. Aquilo que o homem não pode conceber nem os potências angélicas podem entrever, isto é, a revelação pessoal do Filho com o Pai, eis que o Espírito do Filho nos faz participar nela (nessa relação pessoal), nós, que cremos que Jesus é o Cristo e (cremos) que somos nascidos de Deus.

Quando rezamos ao Pai, estamos em comunhão com Ele e com o seu Filho Jesus Cristo. É então que O reconhecemos num maravilhamento sempre novo. A primeira palavra da oração do Senhor é uma bênção de adoração, antes de ser uma súplica. Pois a Glória de Deus é que nós O reconheçamos como "Pai", Deus verdadeiro. Rendemo-lhe graças por nos ter revelado o seu Nome, por nos ter concedido crer nele e por sermos habitados por sua Presença.

Podemos adorar o Pai porque Ele nos fez renascer para a sua Vida, adotando-nos como filhos em seu Filho único: pelo Batismo, Ele nos incorpora no Corpo de seu Cristo e, pela Unção de seu Espírito, que se derrama da Cabeça para os membros, faz de nós "cristos" (isto é "ungidos").

"Deus, que nos predestinou à adoção de filhos, tornou-nos conformes ao Corpo glorioso de Cristo. Doravante, portanto, como participantes do Cristo, vós sois com justa razão chamados 'cristos'".

"O homem novo, renascido e restituído a seu Deus pela graça, diz, antes de mais nada. 'Pai!', porque se tornou filho".

Assim, portanto, pela Oração do Senhor, somos revelados a nós mesmos ao mesmo tempo que o Pai nos é revelado:

"Ó homem, não ousavas levantar o teu rosto ao céu, baixavas os olhos para a terra, e de repente recebeste a graça de Cristo: todos os pecados te foram perdoados. De mau servo te tornaste bom filho [...] Levanta, pois, os olhos para o Pai que te resgatou por seu Filho e dize: Pai nosso [...]. Mas não exijas nenhum privilégio. Somente de Cristo Ele é Pai, de modo especial: para nós é Pai em comum, porque gerou somente a Ele; a nós, ao invés, Ele nos criou. Dize, portanto, também tu, pela graça: Pai nosso, a fim de mereceres ser seu filho".

Este dom gratuito da adoção exige de nossa parte uma conversão contínua e uma vida nova. Rezar ao nosso Pai deve desenvolver em nós, duas disposições fundamentais:

O desejo e a vontade de assemelhar-se a Ele. Criados à sua imagem, é por graça que a semelhança nos é dada e a ela devemos corresponder.

"Quando chamamos a Deus 'Pai nosso', precisamos lembrar-nos de que devemos comportar-nos como filhos de Deus".
"Não podeis chamar de vosso Pai ao Deus de toda bondade, se conservais um coração cruel e desumano; pois nesse caso já não tendes mais em vós a marca da bondade do Pai celeste".
"É preciso contemplar sem cessar a beleza do Pai e com ela impregnar nossa alma".

Um coração humilde e confiante que nos faz 'retornar à condição de crianças' (Mt 18,3), porque é aos 'pequeninos' que o Pai Se revela (Mt 11,25):

É um olhar sobre Deus tão-somente, um grande fogo de amor. A alma nele se dissolve e se abisma na santa dileção, e se entretém com Deus como com o seu próprio Pai, bem familiarmente, com ternura de piedade toda particular.

Nosso Pai: este nome suscita em nós, ao mesmo tempo, o amor, a afeição na oração, (...) e também a esperança de alcançar o que vamos pedir... Com efeito, o que poderia Ele recusar ao pedido de seus filhos, quando já antes lhes permitiu ser seus filhos?

"Nosso"

(CIC 2786-93)

Pai "Nosso" refere-se a Deus. De nossa parte, este adjetivo não exprime uma posse, mas uma relação inteiramente nova com Deus.

Quando dizemos Pai "Nosso", reconhecemos primeiramente que todas as suas promessas de amor anunciadas pelos profetas se cumprem na nova e eterna Aliança em Cristo: nós nos tornamos "seu" Povo e Ele é, doravante, "nosso" Deus. Esta relação nova é uma pertença mútua dada gratuitamente: é pelo amor e pela fidelidade que devemos responder "à graça e à verdade" que nos são dadas em Jesus Cristo.

Como a Oração do Senhor é a de seu Povo nos "últimos tempos", este "nosso" exprime também a certeza de nossa esperança na última promessa de Deus; na Jerusalém nova, dirá Ele ao vencedor: "Eu serei seu Deus e ele será meu filho" (Ap 21,7).

Rezando ao "nosso" Pai, é ao Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo que nos dirigimos pessoalmente. Não dividimos a divindade, porque o Pai é dele "a fonte e a origem", mas confessamos, com isso, que eternamente o Filho é gerado por Ele e que dele procede o Espírito Santo. Tampouco confundimos as Pessoas porque confessamos que nossa comunhão é com o Pai e se Filho, Jesus Cristo, em seu único Espírito Santo. A Santíssima Trindade é consubstancial e indivisível. Quando rezamos ao Pai, nós o adoramos e o glorificamos com o Filho e o Espírito Santo.

Gramaticalmente, "nosso" qualifica uma realidade comum a vários. Não há senão um só Deus, e Ele é reconhecido como pai pelos que, mediante a fé em seu Filho único, renasceram dele pela água e pelo Espírito. A Igreja é esta nova comunhão entre Deus e os homens; unida ao Filho único tornado "o primogênito entre muitos irmãos" (Rm 8,29), ele está em comunhão com um só e mesmo Pai, em um só e mesmo Espirito Santo. Rezando ao "nosso" Pai, cada batizado reza nesta Comunhão: "A multidão dos que haviam crido era um só coração e uma só alma" (At 4,32).

Por isso, apesar das divisões dos cristãos, a oração ao "nosso" Pai continua sendo o bem comum e um apelo urgente pata todos os batizados. Em comunhão mediante a fé em Cristo e mediante o Batismo, devem eles participar na oração de Jesus para a unidade de seus discípulos.

Enfim, se rezamos verdadeiramente ao "Nosso Pai", saímos do individualismo, pois o Amor que acolhemos nos liberta (do individualismo). O "nosso" do início da Oração do Senhor, como o "nós" dos quatro últimos pedidos, não exclui ninguém. Para que seja dito em verdade, nossas divisões e oposições devem ser superadas.

Os batizados não podem rezar ao Pai "nosso" sem levar para junto dele todos aqueles por quem Ele entregou seu Filho bem-amado. O amor de Deus é sem fronteiras; nossa oração também deve sê-lo. rezar ao "nosso" Pai abre-nos para as dimensões de Seu amor manifestado no Cristo: rezar com e por todos os homens que ainda não O conhecem, a fim de que sejam "congregados na unidade". Esta Solicitude divina por todos os homens e por toda a criação animou todos os grandes orantes e deve dilatar nossa oração em amplidão de amor quando ousamos dizer Pai "nosso".

"Que estais no céu"

(CIC 2794-96)

Esta expressão bíblica não significa um lugar ("o espaço"), mas uma maneira de ser; não o afastamento de Deus, mas sua majestade. Nosso Pai não está "em outro lugar", Ele está "para além de tudo" quanto possamos conceber a respeito de sua Santidade. Porque Ele é três vezes Santo, está bem próximo do coração humilde e contrito:

"É com razão que estas palavras "Pai Nosso que estais no céu" provêm do coração dos justos, onde Deus habita como que em seu templo. Por elas também o que reza desejará ver morar em si aquele que ele invoca".

"Os céus poderiam muito bem ser também aqueles que trazem a imagem do mundo celeste, nos quais Deus habita e passeia".

O símbolo dos céus nos remete ao mistério da Aliança que vivemos quando rezamos ao nosso Pai. Ele está nos céus, que são sua Morada; a Casa do Pai é, portanto, nossa "pátria". Foi da terra da aliança que o pecado nos exilou e é para o Pai, para o céu, que a conversão do coração nos faz voltar. Ora, é no Cristo que o céu e a terra são reconciliados, pois o filho "desceu do céu", sozinho, e para lá nos faz subir com ele, por sua Cruz, sua Ressureição e Ascenção.

Quando a Igreja reza "Pai nosso que estais nos céus", professa que somos o Povo de Deus já "assentados nos céus, em Cristo Jesus", "escondidos com Cristo em Deus" e, ao mesmo tempo, "gememos pelo desejo ardente de revestir por cima de nossa morada terrestre a nossa habitação celeste" (2Cor 5,2).

"Os cristãos estão na carne, mas não vivem segundo a carne. Passam sua vida na terra, mas são cidadãos do céu".

Os Sete Pedidos

1 - "Santificado seja vosso Nome"

(CIC 2807-15)

O termo "santificar" deve ser entendido aqui não primeiramente em seu sentido causativo (só Deus santifica, torna santo), mas sobretudo num sentido estimativo: reconhecer como santo, tratar de maneira santa. É assim que, na adoração, esta invocação é às vezes compreendida como um louvor e uma ação de graças. Mas este pedido nos é ensinado por Jesus como um optativo: um pedido, um desejo e uma espera em que Deus e o homem estão empenhados. Desde o primeiro pedido a nosso Pai, somos mergulhados no mistério íntimo de sua Divindade e no evento da salvação de nossa humanidade. Pedir-lhe que seu nome seja santificado nos envolve na "decisão prévia que lhe aprouve tomar" (Ef 1,9) para "sermos santos e irrepreensíveis diante dele no amor" (Ef 1,4).

Nos momentos decisivos de sua economia, Deus revela seu Nome, mas revela-o realizando sua obra. Ora, esta obra só se realiza para nós e em nós se seu nome for santificado por nós e em nós.

A Santidade de Deus é o centro inacessível de seu mistério eterno. Ao que, deste mistério, está manifestado na criação e na história, a Escritura chama de Glória, a irradiação de sua Majestade. Ao criar o homem "a sua imagem e semelhança" (Gn 1,26), Deus "o coroa de glória", mas, pecando, o homem é "privado da Glória de Deus". Sendo assim, Deus via manifestar sua Santidade revelando e dando seu Nome, a fim de restaurar o homem "segundo a imagem de seu Criador" (Cl 3,10).

Na promessa a Abraão, e no juramento que a acompanha, Deus empenha a si mesmo, mas sem revelar seu Nome. É a Moisés que começa a revelá-lo, e o manifesta aos olhos de todo o povo, salvando-o dos egípcios: "Ele se vestiu de glória" (Ex 15,1). A partir da Aliança do Sinai, este povo é "seu" e deve ser uma "nação santa" (ou consagrada: é a mesma palavra em hebraico) porque o nome de Deus habita nele.

Ora, apesar da Lei santa que o Deus Santo lhe dá e torna a dar, e embora o Senhor, "em consideração a seu nome", use de paciência, o povo se desvia do Santo de Israel e "profana seu nome entre as nações". Foi por isso que os justos da Antiga Aliança, os pobres que retornaram do exílio e os profetas, ficaram abrasados pela paixão do Nome.

Por fim, em Jesus, o Nome do Deus Santo nos é revelado e dado, na carne, como Salvador: revelado por aquilo que Ele É, por sua palavra e por seu Sacrifício. É o cerne de sua oração sacerdotal: "Pai santo... por eles a mim mesmo me santifico, para que sejam santificados na verdade" (Jo 17,19). É por "santificar" Ele mesmo o seu nome que Jesus nos "manifesta" o Nome do Pai. Ao final de sua Páscoa, o Pai lhe dá então o nome que está acima de todo nome: Jesus é Senhor para a glória de Deus Pai.

Na água do Batismo fomos "lavados, santificados, justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito de Nosso Deus" (1Cor 6,11). Durante toda nossa vida, nosso Pai "nos chama à santidade" (1Ts 4,7). E, já que é "por ele que vós sois em Cristo Jesus, que se tornou para nós santificação" (1Cor 1,30), contribui para sua Glória e para nossa vida o fato de seu nome ser santificado em nós e por nós. Essa é a urgência de nosso primeiro pedido.

"Quem poderia santificar a Deus, já que é Ele mesmo quem santifica? Mas, inspirando-nos nesta palavra: "Sede santos porque eu sou Santo" (Lv 11,44), nós pedimos que, santificados pelo Batismo, perseveramos naquilo que começamos a ser. E pedimo-lo todos os dias, porque cometemos faltas todos os dias e devemos purificar-nos de nossos pecados por uma santificação retornada sem cessar... Recorremos, portanto, à oração para que esta santidade permaneça em nós."

Depende, inseparavelmente, de nossa vida e de nossa oração que seu Nome seja santificado entre as nações:

"Pedimos a Deus que santifique seu Nome, porque é pela santidade que Ele salva e santifica toda a criação... Trata-se do Nome que dá a salvação ao mundo perdido, mas pedimos que este Nome de Deus seja santificado em nós por nossa vida. Pois, se vivemos bem, o Nome divino é bendito; mas, se vivemos mal, ele é blasfemado, segundo a palavra do Apóstolo: "O Nome de Deus está sendo blasfemado por vossa causa entre os pagãos" (Rm 2,24). Rezamos, portanto, para merecer ter em nossas almas tanta santidade quanto é santo o Nome de nosso Deus.

"Quando dizemos "santificado seja o vosso Nome", pedimos que ele seja santificado em nós que estamos nele, mas também nos outros que a graça de Deus ainda aguarda, a fim de conformar-nos ao preceito que nos obriga a rezar por todos, mesmo por nossos inimigos. è por isso que não dizemos expressamente: nosso Nome seja santificado "em nós", porque pedimos que ele o seja em todos os homens.

Este pedido, que contém todos os pedidos, é atendido pela oração de Cristo, como os seis outros que seguem. A oração ao nosso Pai é nossa oração se for rezada "no Nome" de Jesus. Jesus pede em sua oração sacerdotal: "Pai santo, guarda em teu Nome os que me deste" (Jo 17,11).

2 - "Venha a nós o vosso Reino"

(CIC 2816-21)

No Novo Testamento o mesmo termo "Basiléia" pode ser traduzido por realeza (nome abstrato), reino (nome concreto) ou reinado (nome de ação). O Reino de Deus existe antes de nós. Aproximou-se no Verbo encarnado, é anunciado ao longo de todo o Evangelho, veio na morte e na Ressureição de Cristo. O Reino de Deus vem desde a santa Ceia e na Eucaristia: ele está no meio de nós. O Reino virá na glória quando Cristo o restituir a seu Pai:

"O Reino de Deus pode até significar o Cristo em pessoa, a quem invocamos com nossas súplicas todos os dias e cuja vinda queremos apressar por nossa espera. Assim como Ele é nossa Ressureição, pois nele nós ressuscitamos, assim também pode ser o Reino de Deus, pois nele nós reinaremos".

Este pedido é o "Marana Tha", o grito do Espírito e da Esposa: "Vem, Senhor Jesus":

"Mesmo que esta oração não nos tivesse imposto em dever de pedir a vinda deste Reino, nós mesmos, por nossa iniciativa, teríamos soltado este grito, apressando-nos a ir abraçar nossas esperanças. As almas dos mártires, sob o altar, invocam o Senhor com grandes gritos: 'Até quando, Senhor, tardarás a pedir contas de nosso sangue aos habitantes da terra?' (Ap 6,10). Eles devem, com efeito, obter justiça no fim dos tempos. Senhor, apressa portanto a vinda de teu reinado".

Na Oração do Senhor, trata-se principalmente da vinda final do Reino de Deus mediante o retorno de Cristo. Mas este desejo não desvia a Igreja de sua missão neste mundo, antes a empenha ainda mais nesta missão. Pois a partir de Pentecostes a vinda do reino é obra do Espírito do Senhor "para santificar todas as coisas, levando à plenitude a sua obra".

"O Reino de Deus é justiça, paz e alegria no Espírito Santo" (Rm 14,17). Os últimos tempos, que estamos vivendo, são os tempos da efusão do Espírito Santo. Trava-se, por conseguinte, um combate decisivo entre "a carne" e o Espírito.

Só um coração puro pode dizer com segurança: "Venha a nós o vosso Reino". è preciso ter aprendido com Paulo para dizer: "Portanto, que o pecado não impere mais em vosso corpo mortal" (Rm 6,12). Quem se conserva puro em suas ações, em seus pensamentos e em suas palavras pode dizer a Deus: "Venha o vosso Reino".

Num trabalho de discernimento segundo o Espírito, de vem os cristãos distinguir entre o crescimento do Reino de Deus e o progresso da cultura da cultura e da sociedade em que estão empenhados. Esta distinção não é separação. A vocação do homem para a vida eterna não suprime, antes reforça seu dever de acionar as energias e os meios recebidos do Criador para servir neste mundo à justiça e à paz.

Este pedido está contido e é atendido na oração de Jesus, presente e eficaz na Eucaristia; produz seu fruto na vida nova segundo as Bem-aventuranças.

3 - "Seja feita a vossa Vontade assim na terra como no céu"

(CIC 2822-27)

É Vontade de nosso Pai "que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade" (1Tm 2,3-4). Ele "usa de paciência, porque não quer que ninguém se perca" (2Pd 3,9). Seu mandamento, que resume todos os outros, e que nos diz toda a sua vontade, é que "nos amemos uns aos outros, como Ele nos amou".

"Deu-nos a conhecer o mistério de sua vontade, conforme decisão prévia que lhe aprovou tomar: ...a de em Cristo encabeçar todas a coisas... Nele, predestinados pelo propósito daquele que tudo opera segundo o conselho de sua Vontade, fomos feitos sua herança" (Ef 1,9-11). Pedimos que se realize plenamente este desígnio amoroso na terra, como já acontece no céu.

No Cristo, e por sua vontade humana, a Vontade do Pai foi realizada completa e perfeitamente e uma vez por todas. Jesus disse ao entrar neste mundo: "Eis-me aqui, eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade" (Hb 10,7). Só Jesus pode dizer: "Faço sempre o que lhe agrada" (Jo 8,29). Na oração de sua agonia, ele consente totalmente com esta vontade "Não a minha vontade, mas a tua seja feita!" (Lc 22,42). É por isso que Jesus "se entregou a si mesmo por nossos pecados, segundo a vontade de Deus" (Gl 1,4). "Graças a esta vontade é que somos santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo" (Hb 10,10).

Jesus, "embora fosse Filho, aprendeu, contudo, a obediência pelo sofrimento" (Hb 5,8). Com maior razão, nós, criaturas e pecadores, que nos tornamos nele filhos adotivos, pedimos ao nosso Pai que una nossa vontade à de seu Filho para realizar sua Vontade, seu plano de salvação para a vida do mundo. Somos radicalmente incapazes de fazê-lo; mas, unidos a Jesus e com a força de seu espírito Santo, podemos entregar-lhe nossa vontade e decidir-nos a escolher o que seu Filho sempre escolheu: fazer o que agrada ao Pai.

"Aderindo a Cristo, podemos tornar-nos um só espírito com ele, e com isso realizar sua Vontade; dessa forma ela será cumprida perfeitamente na terra como no céu".

"Considerai como Jesus Cristo nos ensina a ser humildes, ao fazer-nos ver que nossa virtude não depende aqui, a cada fiel que reza, que o faça universalmente, isto é, por toda a terra. Pois não diz "seja feita a vossa vontade" em mim ou em vós, mas "em toda a terra", a fim de que dela seja banido o erro, nela reine a verdade, o vício seja destruído, a virtude floresça novamente, e que a terra não mais seja diferente do céu".

Pela oração é que podemos "discernir qual é a vontade de Deus" e obter "a perseverança para cumpri-la". Jesus nos ensina que entramos no Reino dos céus não por palavras, mas "praticando a vontade de meu Pai que está nos céus" (Mt 7,21).

"Se alguém faz a vontade de Deus, a este Deus escuta" (Jo 9,31). Tal é a força da vontade da oração da Igreja em Nome de seu Senhor, sobretudo na Eucaristia; é comunhão de intercessão com a Santíssima Mãe de Deus e com todos os santos que foram "agradáveis" ao Senhor por não terem querido fazer senão a sua Vontade:

"Podemos ainda, sem ferir a verdade, traduzir estas palavras: "Seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu" por estas: na Igreja, como em nosso Senhor, Jesus Cristo; na Esposa que Ele desposou, como no Esposo que realizou a Vontade do Pai.

4 - "O pão nosso de cada dia nos dai hoje"

(CIC 2828-37)

"Dai-nos": é bela a confiança dos filhos que tudo esperam de seu Pai. "Ele faz nascer o seu sol igualmente sobre maus e bons e cair chuva sobre justos e injustos" (Mt 5,45) e dá a todos os seres vivos "o alimento a seu tempo" (Sl 104,27). Jesus nos ensina a fazer este pedido, que glorifica efetivamente nosso Pai, porque reconhece como Ele é Bom para além de toda bondade.

"Dai-nos" é ainda expressão da Aliança: pertencemos a Ele e Ele pertence a nós, age em nosso favor. Mas esse "nós" o reconhece também como o Pai de todos os homens e nós lhe pedimos por todos eles, em solidariedade com suas necessidades e sofrimentos.

"O pão nosso." O Pai, que nos dá a vida não pode deixar de nos dar o alimento necessário à vida, todos os bens "úteis", materiais e espirituais. No Sermão da Montanha, Jesus insiste nesta confiança filial que coopera com a Providência de nosso Pai. Não nos exorta a nenhuma passividade, mas quer libertar-nos de toda inquietação e de toda preocupação. É esse o abandono filial dos filhos de Deus:

"Aos que procuram o reino e a justiça de Deus, ele promete dar tudo por acréscimo. Com efeito, tudo pertence a Deus: a quem possui Deus, nada lhe falta, se ele próprio não falta a Deus".

A presença dos que têm fome por falta de pão, no entanto, revela outra profundidade deste pedido. O drama da fome no mundo convoca os cristãos que rezam em verdade para uma responsabilidade efetiva em relação a seus irmãos, tanto nos comportamentos pessoais como em sua solidariedade com a família humana. Este pedido da Oração do Senhor não pode ser isolado das parábolas do podre Lázaro e do Juízo Final.

Com o fermento na massa, a novidade do reino deve elevar o mundo pelo Espírito de Cristo. Deve manifestar-se pela instauração da justiça nas relações pessoais e sociais, econômicas e internacionais, sem jamais esquecer que não existe estrutura justa sem seres humanos que queiram ser justos.

Trata-se de "nosso" pão, "um" para "muitos". A pobreza das bem-aventuranças é a virtude da partilha que convoca a comunicar e partilhar os bens materiais e espirituais, não por coação, mas por amor, para que a abundância de uns venha em socorro das necessidades dos outros.

"Reza e trabalha." Rezai como se tudo dependesse de Deus e trabalhai como se tudo dependesse de vós. Tendo realizado nosso trabalho, o alimento fica sendo um dom de nosso Pai; convém pedi-lo e disso render-lhe graças. É esse o sentido da benção da mesa numa família cristã.

Esse pedido e a responsabilidade que ele implica valem também para outra fome da qual os homens padecem: "O homem não vive apenas de pão, mas de tudo aquilo que procede da boca de Deus" (Mt 4,4), isso é, sua Palavra e seu Sopro. Os cristãos devem envidar todos os seus esforços para "anunciar o Evangelho aos pobres". Há uma fome na terra, "não fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir a Palavra de Deus" (Am 8,11). Por isso, o sentido especificamente cristão desse quarto pedido refere-se ao Pão da Vida: a Palavra de Deus a ser acolhida na fé, o Corpo de Cristo recebido na Eucaristia.

"Hoje" é também uma expressão de confiança. O Senhor no-lo ensina; nossa presunção não podia inventá-la. Como se trata sobretudo de sua Palavra e do Corpo de seu Filho, este "hoje" não é só o de nosso tempo mortal: é o Hoje de Deus:

"Se recebes o pão cada dia, cada dia é para ti hoje. Se Cristo está ao teu dispor hoje, todos os dias Ele ressuscita para ti. Como se dá isso? 'Tu és meu filho, eu hoje te gerei' (Sl 2,7). Hoje, isto é, quando Cristo ressuscita".

"De cada dia". Esta palavra, "epiousios" (pronuncie: epiússios), não é usada em nenhum outro lugar no Novo Testamento. Tomada em um sentido temporal, é uma retomada pedagógica de "hoje" para nos confirmar numa confiança "sem reserva". Tomada em sentido qualitativo, significa o necessário à vida, e, em sentido mais amplo, todo bem suficiente para a subsistência. Literalmente (epiousios: "supersubstancial"), designa diretamente o Pão de Vida, o Corpo de Cristo, "remédio de imortalidade", sem o qual não temos a Vida em nós. Enfim, ligado ao que precede, o sentido celeste é evidente: "este Dia" é o dia do Senhor, o do Banquete do reino, antecipado na eucaristia que é já o antegozo do reino que vem. Por isso convém que a Liturgia eucarística seja celebrada "cada dia".

"A Eucaristia é nosso pão cotidiano. A virtude própria deste alimento divino é uma força de união que nos vincula ao Corpo do Salvador e nos faz seus membros, a fim de que nos transformemos naquilo que recebemos... Este pão cotidiano está ainda nas leituras que ouvis cada dia na Igreja, nos hinos que são cantados e que vós cantais. Tudo isso é necessário à nossa peregrinação".

"O Pai do céu nos exorta a pedir, como filhos do céu, o Pão do céu. Cristo 'é Ele mesmo o pão que, semeado na Virgem, levedado na carne, amassado na Paixão, cozido no forno do sepulcro, colocado em reserva na Igreja, levado aos altares, proporciona cada dia aos fiéis um alimento celeste'".

5 - "Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos têm ofendido"

(CIC 2838-45)

Este pedido é surpreendente. Se comportasse apenas o primeiro membro da frase - "Perdoai-nos as nossas ofensas" - poderia ser incluído, implicitamente, nos três primeiros pedidos da Oração do Senhor, pois o Sacrifício de Cristo é "para a remissão dos pecados". Mas, de acordo com um segundo membro da frase, nosso pedido não será atendido, a não ser que tenhamos antes correspondido a uma exigência. Nosso pedido é voltado para o futuro, nossa resposta deve tê-lo precedido; uma palavra os liga: "Como".

PERDOAI-NOS AS NOSSAS OFENSAS

Com audaciosa confiança, começamos a rezar a nosso Pai. Ao suplicar-lhe que seu nome seja santificado, lhe pedimos a graça de sempre mais sermos santificados. Embora revestidos da veste batismal, nós não deixamos de pecar, de desviar-nos de Deus. Agora, neste novo pedido, nós nos voltamos a ele, como o filho pródigo, e nos reconhecemos pecadores, diante dele, como o publicano. Nosso pedido começa por uma "confissão", na qual declaramos, ao mesmo tempo, nossa miséria e sua Misericórdia. Nossa esperança é firme, porque, em seu Filho "temos a redenção, a remissão dos pecados" (Cl 1,14). Encontramos o sinal eficaz e indubitável de seu perdão nos sacramentos de sua Igreja.

Ora, e isso é tremendo, este mar de misericórdia não pode penetrar em nosso coração enquanto não tivermos perdoado aos que nos ofenderam. O amor, como o Corpo de Cristo, é indivisível: não podemos amar o Deus que não vemos, se não amamos o irmão, a irmã, que vemos. Recusando-nos a perdoar nosso irmãos e irmãs, nosso coração se fecha, sua dureza o torna impermeável ao amor misericordioso do Pai; confessando nosso pecado, nosso coração se abre a sua graça.

Este pedido é tão importante que é o único ao qual o Senhor volta e que desenvolve no Sermão da Montanha. Esta exigência crucial do mistério da Aliança é impossível para o homem. Mas "tudo é possível a Deus" (Mt 19,26).

...ASSIM COMO NÓS PERDOAMOS A QUEM NOS TEM OFENDIDO

Este "como" não é único no ensinamento de Jesus: "Deveis ser perfeitos 'como' vosso Pai celeste é perfeito" (Mt 5,48); "Sede misericordiosos 'como' vosso Pai é misericordioso" (Lc 6,36); "Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros 'como' eu vos amei" (Jo 13,34). Observar o mandamento do Senhor é impossível se quisermos imitar, de fora, o modelo divino. Trata-se de participar, de forma vital e "do fundo do coração", na Santidade, na Misericórdia, no Amor de nosso Deus. Só o Espírito que é "nossa Vida" (Gl 5,25) pode fazer "nossos" os mesmos sentimentos que teve Cristo Jesus. Então torna-se possível a unidade do perdão, "perdoando-nos mutuamente 'como' Deus em Cristo nos perdoou" (Ef 4,32).

Assim adquirem vida as palavras do Senhor sobre o perdão, esse Amor que ama até o extremo do amor. A parábola do servo desumano, que coroa o ensinamento do Senhor sobre a comunhão eclesial, termina com esta palavra: "Eis como me Pai celeste agirá convosco, se cada um de vós não perdoar, de coração, o seu irmão". Com efeito, é "no fundo do coração" que tudo se faz e se desfaz. Não está em nosso poder não mais sentir e esquecer a ofensa; mas o coração que se entrega ao Espírito Santo transforma a ferida em compaixão e purifica a memória, transformando a ofensa em intercessão.

A oração cristã chega até o perdão dos inimigos. Transforma o discípulo, configurando-o a seu Mestre. O perdão é um ponto alto da oração cristã; o dom da oração não pode ser recebido a não ser num coração em consonância com a compaixão divina. O perdão dá também testemunho de que, em nosso mundo, o amor é mais forte que o pecado. Os mártires, de ontem e de hoje, dão este testemunho de Jesus. O perdão é a condição fundamental da Reconciliação dos filhos de Deus com seu Pai e dos homens entre si.

Não há limite nem medida a esse perdão essencialmente divino. Tratando-se de ofensas ("pecados", segundo Lc 11,4, ou "dividas", segundo Mt 6,12), de fato somos sempre devedores: "Não devais nada a ninguém, a não ser o amor mútuo" (Rm 13,8). A Comunhão da Santíssima Trindade é a fonte e o critério da verdade de toda relação. Esta comunhão é vivida na oração, sobretudo na Eucaristia.

"Deus não aceita o sacrifício dos que fomentam a desunião; Ele ordena que se afastem do altar para primeiro se reconciliarem com seus irmãos: Deus quer ser pacificado com orações de paz. Para Deus, a mais bela obrigação é nossa paz, nossa concórdia, a unidade do Pai, no Filho e no Espírito Santos de todo o povo fiel".

6 - "Não nos deixeis cair em tentação"

(CIC 2846-49)

Este pedido atinge a raiz do precedente, pois nossos pecados são fruto do consentimento na tentação. Pedimos ao nosso Pai que não nos "deixe cair" nela. É difícil traduzir, com uma palavra só, a expressão grega "me eisenegkes" (pronuncie: "me eissenenkes"), que significa " não permitas entrar em", "não nos deixes sucumbir à tentação". "Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta" (Tg 1,13); Ele quer, ao contrário, dela nos livrar. Nós lhe pedimos que não nos deixe enveredar pelo caminho que conduz ao pecado. Este pedido implora o Espírito de discernimento e de fortaleza.

O Espírito Santo nos faz discernir entre a provação necessária ao crescimento do homem interior em vista de uma "virtude comprovada", e a tentação, que leva ao pecado e à morte. Devemos também discernir entre "ser tentado" e "consentir" na tentação. Por fim, o discernimento desmascara a mentira da tentação: aparentemente, seu objeto é "bom, sedutor para a vista, agradável" (Gn 3,6), ao passo que, na realidade, seu fruto é a morte.

"Deus não quer impor o bem, ele quer seres livres... Para alguma coisa a tentação serve. Todos, com exceção de Deus, ignoram o que nossa alma recebeu de Deus, até nós mesmos. Mas a tentação o manifesta, para nos ensinar a conhecer-nos e, com isso, descobrir-nos nossa miséria e nos obrigar a dar graças pelos bens que a tentação nos manifestou".

"Não cair em tentação" envolve uma decisão do coração: "Onde está o teu tesouro, aí estará teu coração... Ninguém pode servir a dois senhores" (Mt 6,21.24). "Se vivemos pelo Espírito, pelo Espírito pautemos também nossa conduta" (Gl 5,25). Neste "consentimento" dado ao Espírito Santo, o Pai nos dá a força. "As tentações que vos acometerem tiveram medida humana. Deus é fiel; não permitirá que sejais tentados acima de vossas forças. Mas, com a tentação, Ele vos dará os meios de sair dela e a força para a suportar" (1Cor 10,13).

Ora, tal combate e tal vitória não são possíveis senão na oração. Foi por sua oração que Jesus venceu o Tentador, desde o começo e no último combate de sua agonia. É a seu combate e à sua agonia que Cristo nos une neste pedido a nosso Pai. A vigilância do coração é lembrada com insistência em comunhão com a de Cristo. A vigilância consiste em "Guardar o coração", e Jesus pede ao Pai que "nos guarde em seu nome". O Espírito Santos procura manter-nos sempre alerta para essa vigilância. Esse pedido adquire todo seu sentido dramático no contexto da tentação final de nosso combate na terra; pede a perseverança final. "Eis que venho como um ladrão: feliz aquele que vigia!" (Ap 16,15).

7 - "Mas livrai-nos do mal"

(CIC 2850-54)

O último pedido ao nosso Pai aparece também na oração de Jesus: "Não te peço que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno" (Jo 17,15). Diz respeito a cada um de nós pessoalmente, mas somos sempre "nós" que rezamos, em comunhão com toda a Igreja e pela libertação de toda a família humana. A Oração do Senhor não cessa de abrir-nos para as dimensões da economia da salvação. Nossa interdependência no drama do pecado e da morte se transforma em solidariedade no Corpo de Cristo, na Comunhão dos santos".

Neste pedido, o Mal não é uma abstração, mas designa uma pessoa, Satanás, o Maligno, o anjo que se opõe a Deus. O "diabo" ("diabolos") é aquele que "se atira no meio" do plano de Deus e de sua "obra de salvação" realizada em Cristo.

"Homicida desde o princípio, mentiroso e pai da mentira" (Jo 8,44), "Satanás, sedutor de toda a terra habitada" (Ap 12,9), foi por ele que o pecado e a morte entraram no mundo e é por sua derrota definitiva que a criação toda será "liberta da corrupção do pecado e da morte". "Nós sabemos que todo aquele que nasceu de Deus não peca; o Gerado por Deus se preserva e o Maligno não o pode atingir. Nós sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro está sob o poder do Maligno" (1Jo 5,18-19).

O Senhor, que arrancou vosso pecado e perdoou vossas faltas, tem poder para vos proteger e vos guardar contra os ardis do Diabo que vos combate, a fim de que o inimigo, que costuma engendrar a falta, não vos surpreenda. Quem se entrega a Deus não teme o Demônio. "Se Deus é por nós, quem será contra nós?" (RM 8,31).

A vitória sobre o "príncipe deste mundo" foi alcançado, de uma vez por todas, na Hora em que Jesus se entregou livremente à morte para nos dar sua vida. É o julgamento deste mundo, e o príncipe deste mundo é "lançado fora", "Ele põe-se a perseguir a Mulher", mas não tem poder sobre ela: a nova Eva, "cheia de graça" por obra do Espírito Santo, é preservado do pecado e da corrupção da morte (Imaculada Conceição e Assunção da Santíssima Mãe de Deus, Maria, sempre virgem). "Enfurecido por causa da Mulher, o Dragão foi então guerrear contra o resto de seus descendentes" (Ap 12,17). Por isso o Espírito e a Igreja rezam: "Vem, Senhor Jesus" (Ap 22,17.20), porque a sua Vinda nos livrará do Maligno.

Ao pedir que nos livre do Maligno, pedimos igualmente que sejamos libertados de todos os males, presentes, passados e futuros, dos quais ele é autor ou instigador. Neste último pedido, a Igreja traz toda a miséria do mundo diante do Pai. Com a libertação dos males que oprimem a humanidade, ela implora o dom precioso da paz e a graça de esperar perseverantemente o retorno de Cristo. Rezando dessa forma, ela antecipa, na humildade da fé, a recapitulação de todos e de tudo naquele que "detém as chaves da Morte e do Hades" (ap 1,18), "o Todo-poderoso, Aquele que é, Aquele que era e Aquele que vem" (Ap 1,8).

"Livrai-nos de todos os males, ó Pai, e dai-nos hoje a vossa paz. Ajudados por vossa misericórdia, sejamos sempre livres do pecado e protegidos de todos os perigos, enquanto, vivemos a esperança, aguardamos a vinda do Cristo Salvador".

A doxologia final

(CIC 2855-56)

A doxologia final: "Pois vosso é o reino, o poder e a glória" retorna, mediante inclusão, os três primeiros pedidos a nosso Pai: a glorificação de seu Nome, a vinda de seu Reino e o poder de sua Vontade salvífica. Mas esta retomada ocorre então em forma de adoração e de ação de graças, como na Liturgia celeste. O príncipe deste mundo atribuíra a si mentirosamente estes três títulos de realeza, de poder e de glória; Cristo, o Senhor, os restitui a seu Pai e nosso Pai, até entregar-lhe o Reino, quando será definitivamente consumado o Mistério da salvação e Deus será tudo em todos.

"Em seguida, terminada a oração, tu dizes 'Amém', corroborando por este Amém, que significa 'Que isto se faça' tudo quanto está contido na oração que Deus nos ensinou".

Durante a Santa Missa, porque não dizemos "Amém" logo após a oração do Pai Nosso?

Durante a Santa Missa não dizemos Amém após a Oração do Pai Nosso porque a Oração do Pai Nosso faz parte da Liturgia Eucarística, portanto há uma continuidade com a doxologia, terminando na Oração da Paz, só então proclamamos Amém!. Portanto nós proclamamos Amém não apenas para o Pai Nosso, mas para todas as orações subsequentes, colocando o Amém em um contexto muito mais amplo.

Mas tomemos cuidado, pois esta regra é válida apenas durante a Liturgia da Missa, devido ao que foi explicado acima, mas nas nossas orações diárias devemos, sim, proclamar Amém ao final da Oração de Nosso Senhor.

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